Correios recebem R$ 10 bilhões após governo garantir empréstimo

*Imagem gerada com inteligência artificial

A liberação de R$ 10 bilhões para os Correios, com garantia direta da União, escancarou nesta semana a fragilidade financeira da estatal e reacendeu o debate sobre o papel do governo federal no socorro a empresas públicas. O repasse foi viabilizado após a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) publicar o contrato que formaliza o governo como avalista do empréstimo contratado junto a um consórcio de bancos.

O dinheiro entrou no caixa da empresa em um momento crítico e permitiu o pagamento dos salários de dezembro, estimados em cerca de R$ 300 milhões, evitando atrasos na folha de funcionários. A liberação dos recursos dependia da publicação do aval governamental, condição considerada essencial para reduzir o risco da operação e destravar o crédito.

O empréstimo total autorizado soma R$ 12 bilhões, dos quais R$ 2 bilhões ainda devem ser repassados em janeiro. O contrato, válido até 2040, foi autorizado pelo Tesouro Nacional e envolve os bancos Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. A estrutura da operação prevê aportes maiores das instituições públicas e participação menor dos bancos privados.

Segundo o presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, Banco do Brasil, Caixa e Bradesco responderão por R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander contribuirão com R$ 1,5 bilhão cada. O contrato estabelece carência de três anos e início dos pagamentos apenas em dezembro de 2029, com juros de 115% do CDI, abaixo do limite máximo autorizado pelo Tesouro.

Ao conceder o aval, o governo federal assume o compromisso de honrar a dívida em caso de inadimplência da estatal, transferindo parte relevante do risco da operação para o setor público. Na prática, trata-se de uma sinalização clara de que a União não pretende permitir um colapso financeiro dos Correios, mesmo diante das restrições fiscais vigentes.

Durante coletiva de imprensa, Rondon admitiu que a empresa avalia uma nova captação de até R$ 8 bilhões, seja por meio de aportes do Tesouro Nacional ou de um novo empréstimo junto ao mercado financeiro. A possibilidade reforça a percepção de que o atual socorro pode não ser suficiente para equacionar, no curto prazo, os desafios estruturais da estatal.

A estratégia inicial previa uma captação total de R$ 20 bilhões, mas a proposta foi barrada pelo Tesouro Nacional devido às taxas de juros consideradas elevadas. O recuo expõe os limites da atuação do governo em um cenário de pressão sobre as contas públicas e metas fiscais cada vez mais apertadas.

Mais do que uma operação financeira pontual, o empréstimo com aval da União evidencia o dilema enfrentado pelo governo: preservar a operação de uma estatal estratégica sem ampliar riscos fiscais em um ambiente de forte escrutínio sobre gastos públicos, endividamento e responsabilidade fiscal.

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