O Retorno da Realidade: Kast vence com ampla margem e Direita volta ao poder no Chile

No grande teatro da história latino-americana, o pêndulo político raramente se move com a suavidade de um relógio suíço; ele oscila com a violência de uma marreta, derrubando, em seu arco de retorno, as construções frágeis das utopias que falharam em dialogar com a natureza humana. Neste domingo de dezembro de 2025, o Chile, outrora o laboratório predileto das aventuras progressistas e das tentativas de refundação social, enviou uma mensagem ensurdecedora ao continente: a festa da desordem acabou.

A vitória expressiva de José Antonio Kast, com 58% dos votos contra 41% da comunista Jeannette Jara, não é apenas um dado estatístico ou uma alternância burocrática de poder. É, na verdade, um grito de socorro e, simultaneamente, um ato de contrição de uma sociedade que flertou com o abismo institucional e, ao olhar para o fundo, decidiu recuar. Kast, rotulado preguiçosamente pela imprensa mainstream como o "Bolsonaro chileno" — na tentativa habitual de reduzir fenômenos complexos a caricaturas —, triunfou em sua terceira tentativa não por carisma messiânico, mas pela obstinação da prudência.

A derrota de Jeannette Jara é simbólica e devastadora para as pretensões do Foro de São Paulo e seus tentáculos regionais. Jara não era apenas uma candidata; ela encarnava a aliança "frente-amplista", o amálgama da esquerda radical com o centro-esquerda envergonhado, uma coalizão que governou ignorando o que Edmund Burke chamaria de "os pequenos pelotões" da vida cotidiana: a segurança do lar, a integridade das fronteiras e a liberdade econômica básica. Ao focarem em abstrações ideológicas e engenharia social, permitiram que a realidade crua — o crime, a imigração descontrolada e a insegurança — batesse à porta do cidadão comum.

Quando a "maioria silenciosa" — aqueles cinco milhões de chilenos que muitas vezes se abstêm do ativismo ruidoso das praças — foi convocada a se manifestar, o resultado foi uma rejeição categórica ao caos. 

O homem comum, aquele que Roger Scruton descrevia como o pilar da sociedade civil, não deseja a revolução permanente; ele deseja a ordem que permite a liberdade florescer. A retórica de "linha dura contra o crime" de Kast ressoou não por sadismo, mas pela necessidade humana fundamental de viver sem medo, uma premissa que a esquerda moderna, em sua torre de marfim, desaprendeu a respeitar.

Este resultado no Chile é um presságio sombrio para o progressismo na América Latina. Demonstra que a hegemonia cultural e política da esquerda não é inevitável, nem irreversível. Há um cansaço palpável com as promessas de paraísos terrestres que resultam em inflação e violência. O eleitorado está redescobrindo, ainda que intuitivamente, a verdade conservadora de que a política não serve para salvar nossas almas ou refazer a natureza humana, mas para administrar a justiça e manter a paz pública.

Kast assume agora com o desafio hercúleo de governar um país dividido, mas com a legitimidade de quem recebeu um mandato claro para restaurar a autoridade. Para o restante do continente, fica a lição: quando a política se descola da realidade moral e das necessidades concretas do povo, a realidade, cedo ou tarde, impõe seu veredito. 

E no Chile, a realidade venceu.

O Chile escolheu a prudência em vez da revolução. Escolheu a realidade em vez da ideologia.

​Que a lição de Santiago ecoe por todo o continente: A liberdade só floresce onde existe Ordem.


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